"O "Portugal 2020" é um excelente programa, mas não se percebe como pretende apoiar a economia, com a enorme morosidade que caracteriza a sua consecução"

Afirma a Presidente da INOVAGAIA, Drª Maria Cândida Oliveira

"O eixo ENSINO/EMPRESAS é fundamental em todas as frentes do desenvolvimento dum país, e constitui forte contributo para o ganho de competências e criação de emprego"

afirma a Drª Maria Cândida Oliveira em entrevista à newsletter ISLA/IPGT

A conhecida gestora de empresas e vereadora da Câmara Municipal de Gaia fala-nos da sua experiência enquanto autarca, e bem assim do seu trabalho como presidente da direcção da INOVAGAIA, a incubadora de empresas liderada pelo município.

Profunda conhecedora do tecido económico e empresarial do norte, Cândida Oliveira considera ainda que os fundos estruturais têm desempenhado um papel importante no desenvolvimento da economia nacional, e devem ser potenciados. Todavia, manifesta-se crítica sobre o funcionamento do actual “Portugal 2020”, afirmando nomeadamente: “O Portugal 2020, teoricamente, é um excelente programa de ajuda, mas, desde logo, não se percebe como se pretende apoiar e desenvolver a economia, com a enorme morosidade que caracteriza a sua consecução”.  

P - O Município de Gaia tem desenvolvido, desde há mais de uma década, uma política muito activa no que respeita à educação e formação nos mais variados níveis. Como avalia este trabalho e os respectivos resultados?

R - Na verdade, só devo pronunciar-me de 2013 para cá, já que é a partir dessa data que estou mais envolvida no conhecimento das políticas pensadas e potenciadas nessa área. Antes, embora relativamente atenta, não terei sido mais do que uma mera expectadora...

No que me é permitido avaliar, acho que tem sido dada especial atenção ao sector da educação. Pelo menos, apesar dos recursos materiais não serem abundantes e em valores desejáveis, sinto que existe uma grande determinação em apostar no apoio ao ensino, à educação e à formação. Para além das preocupações técnicas, tem-se procurado, fazer a interacção das mesmas com o lado humano e social, com os olhos postos nas famílias, nos estudantes, nos professores, na sociedade em geral. Porém, o sucesso de qualquer política, nunca é consequência dum acto solitário e, o que ocorre é que, nem sempre, se encontram as ajudas integradas em termos de legislação resultante de opções a nível nacional.

"Existe um grande “divórcio”  entre quem tem o poder para governar, para legislar, e o país real..."

P - No que respeita à economia, o concelho de Gaia tem um elevado potencial, reconhecendo-se, embora, que a crise nacional e internacional teve efeitos severos para muitas empresas, nomeadamente ao nível do desemprego. Que análise faz da situação económica e empresarial do concelho, e do papel que as políticas municipais e nacionais têm desempenhado para atenuar os efeitos mais nefastos desta crise?

R - O município de Vila Nova de Gaia tem a sorte de contar com um organismo vocacionado para o fomento do empreendedorismo, apoiando start ups, dinamizando o tecido empresarial, e, entre outras valências na área, desenvolve o apoio à internacionalização das empresas que escolhem essa via para o seu crescimento, mas que, nem sempre, identificam o caminho adequado. Nós estamos cá para encontrar soluções, abrir caminhos, descomplicando! Refiro-me à INOVAGAIA!

A criação desta Associação, foi, sem dúvida, um acto de gestão estratégica de louvar, pois constitui uma ferramenta especializada e potencialmente poderosa, para impulsionar o desenvolvimento económico. Assim, possa, a INOVAGAIA, contar com uma gestão compenetrada e determinada, movendo-se em nome da sociedade e não de interesses pessoais.

Mas, sendo esta Organização maioritariamente detida pela Câmara de Gaia, naturalmente que se espera que seja muito estimulada na realização dos imensos projectos que vêm ao seu encontro e que a mesma procura… Não é esta a realidade, em termos de timings de resposta e apoios financeiros, pois todos sabemos que o grau de liberdade de que os municípios dispõem se já era limitado, vem sendo cada vez mais cerceado. Tal, não permite, naturalmente, uma pronta e eficaz resposta em tempo útil, e a agilidade de gestão indispensável ao bom desenvolvimento de iniciativas úteis e necessárias a uma economia nacional tão carenciada de investimento e flagelada pelo desemprego.

Parece-me, como aliás sempre senti ao longo dos anos, que, na realidade, existe um grande “divórcio” entre quem tem o poder para governar, para legislar e o país real… Assim sendo, a recuperação e desenvolvimento da actividade económica, não só é extremamente difícil, como, não produz os resultados desejáveis. Se por um lado acontecem disposições, políticas, que entendem facilitar, por outro, a burocracia inexplicavelmente ultrapassada e inútil, funciona como um travão ao desenvolvimento e muitos projectos ficam pelo caminho e, os que prosseguem com persistência, vão perdendo rentabilidade. Desta forma, temo que nunca cresceremos de forma saudável e estrategicamente conseguida. 

"Vila Nova de Gaia tem feito um grande esforço de captação de novos negócios"

Há reformas importantes a fazer, para que haja estímulo ao investimento, pois ninguém com o mínimo de bom senso arrisca, quando as leis mudam sistematicamente, por vezes de forma contraditória, a justiça é lenta e a política fiscal não oferece certezas que permitam traçar estratégias que facultem a segurança necessária ao investidor. Quem sofre? Naturalmente quem carece de emprego, e sem investimento, não se criam postos de trabalho.

Vila Nova de Gaia tem feito um grande esforço de captação de novos negócios, nalguns casos conseguido mas, não tanto quanto desejaria, por força das dificuldades a que antes me refiro.

P - Está satisfeita com o desempenho que o pelouro que ocupa no Executivo Municipal tem desenvolvido em favor das populações de Vila Nova de Gaia e da região em geral? E com o trabalho desenvolvido pela INOVAGAIA, enquanto incubadora de empresas, onde tem responsabilidades de direcção? O que gostaria de ver alterado ou melhorado neste sector

R - No executivo municipal não tenho pelouro atribuído. Participo das decisões, acompanhando as reuniões onde as mesmas são votadas e, naturalmente, colaboro com o Presidente e serviços em geral quando, tecnicamente, solicitada. Como independente, não interfiro na actividade política, não querendo tal significar que não tenha opiniões.

O Presidente entendeu entregar-me a responsabilidade de gestão da INOVAGAIA onde sou Presidente da Direcção e, se olhar para o que encontrei há dois anos e meio, quando tomei posse, não posso deixar de me sentir com a disposição e entusiasmo para exercer estas funções com toda a dedicação, enquanto forem de minha responsabilidade. Satisfeita? Nunca! Na realidade esse estado de espirito para um gestor é pernicioso, pois há sempre muito por fazer e, não se pode descansar em cima de resultados alcançados, porque devem ser encarados como meras etapas dum processo que se deve pretender cada vez melhor. 

Gostaria de ver muitas situações alteradas de forma a que o desempenho fosse mais fácil e ágil. Mas, uma “andorinha”, como se depreende das minhas afirmações anteriores, não faz a Primavera!

P - Que avaliação faz das políticas de revitalização da economia, sobretudo no respeitante ao investimento, que têm sido prosseguidas pelos responsáveis dos fundos da União Europeia, inclusive com base no papel desempenhado pelo programa de financiamento “Portugal 2020”?

R - Mais uma vez encontro, do ponto de vista prático, muito desconhecimento da sociedade real, na concepção dos programas de ajuda e recuperação da economia. O tecido empresarial maioritário em número de empresas, tem na sua composição essencialmente nas PMEs. Nem sempre tira partido dos apoios, tais são as dificuldades de acesso, quer por falta de informação, quer por exigências que limitam quem mais precisa. O Portugal 2020, teoricamente, é um excelente programa de ajuda, mas, desde logo, não se percebe como se pretende apoiar e desenvolver a economia, com a enorme morosidade que caracteriza a sua consecução. A INOVAGAIA tem procurado dar um grande ajuda a nível de acompanhamento de candidaturas, de esclarecimento.

O eixo ENSINO/EMPRESAS é fundamental em todas as frentes do desenvolvimento dum país."

P - O tecido económico da Área Metropolitana do Porto é multivariado, com relevante peso nas exportações. Todavia, o turismo e o sector dos vinhos têm mostrado um potencial crescente de afirmação nomeadamente para os concelhos de Porto e Gaia. Da sua experiência como gestora como analisa o potencial ainda disponível nestes dois segmentos e nos que lhes são afins?

R - Tem vindo a ser feito um excelente trabalho nessa área e o dinamismo que nele registo permite-me pensar que está em crescendo e que estrategicamente o futuro está pensado nas suas distintas eventualidades. Assim sendo, acho que o potencial é grande e a criatividade nos negócios, nas políticas de marketing ainda o pode fazer crescer.

P - O ISLA Gaia está nesta cidade desde a sua abertura na Região Norte, há mais de um quarto de século. Nesta instituição foram já licenciados vários milhares de cidadãos, sendo muitas centenas residentes no Concelho de Gaia. Do que é do seu conhecimento, que avaliação faz do papel desempenhado por esta instituição?

R - Não posso ter melhor opinião! O ISLA é uma Instituição de referência, aliás nossa associada, e, de forma muito competente e responsável constitui um pilar incontornável na área da educação.

P - Que importância atribui às parcerias que o tecido económico e empresarial do Concelho de Gaia e as instituições de ensino podem desenvolver? É favorável à criação de redes de complementaridade entre estes dois sectores?

R - Considero fundamentais! Desde sempre defendi a indispensabilidade de cooperação entre as Instituições de ensino e as empresas. Não só sou defensora, como sou praticante convicta. Durante o meu percurso profissional como gestora, nunca deixei de cooperar com o sector do ensino onde, aliás, ganhei grandes colaboradores e bons profissionais.

O eixo ENSINO/EMPRESAS é fundamental em todas as frentes do desenvolvimento dum país e constitui forte contributo para o ganho de competências e criação de emprego. Claro que sou favorável à criação de redes de complementaridade entre estes dois sectores!


Entrevista de Manuel Pinto Teixeira

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