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Este ano cumprem-se 72 anos desde que foi proferida a “Declaração Shuman”, evento que a grande maioria dos países do “Velho Continente” acredita ser o episódio fundamental para o nascimento da atual União Europeia (EU). Mais de meio século depois, os mesmos desafios que levaram à criação da EU inquietam os dias que vivemos.

Todos os anos o Velho Continente celebra, a 9 de maio, o Dia da Europa. Um continente ferido, quase de morte, por dois conflitos de proporções que ainda hoje não conseguimos quantificar, a contas com um novo conflito - que mais tarde Winston Churchill haveria de identificá-la como a “Guerra Fria” - clamava por um período de paz que há muito não vivia.

Essa necessidade de paz duradoura foi o mote para os países do centro da Europa (os mais fustigados pelas contendas da primeira metade do séc. XX) se unirem em torno de um projeto comum europeu, congregando, inicialmente, esforços a nível económico, mas com o horizonte numa união também social e cultural: “Assim será alcançada de forma simples e rápida a fusão de interesses essenciais para o estabelecimento de uma comunidade económica que introduz o fermento de uma comunidade mais ampla e profunda entre países há muito combatidos por divisões sangrentas”, vincou, em 1950, Robert Shuman. Esta citação é uma das passagens essenciais do discurso redigido pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros da França e o conselheiro económico e político Jean Monnet e que ficou conhecida como a Declaração Shuman. E apesar de no mesmo documento Shuman assinalar que “a contribuição que uma Europa organizada e viva pode dar à civilização, é essencial para a manutenção de relações pacíficas”, as feridas, deixadas pelos conflitos globais e pela Guerra Fria, tardam em fechar, sobretudo no que diz respeito à relação entre os países ocidentais, membros da Aliança Atlântica e os do antigo bloco soviético. Prevendo esse futuro, mas também o da persistência de desigualdades e assimetrias, mesmo dentro do bloco unido europeu, Shuman refere, na mesma declaração, que “a Europa não será feita de uma só vez, nem numa construção global: será feita por realizações concretas, primeiro criando uma solidariedade de facto”.

A realidade do Velho Continente, no dia em que celebramos mais um ano do sonho europeu, é a do regresso a um ambiente novamente beligerante. Se é verdade que vivemos uma paz bem mais estável do que alguma vez a Europa conheceu, também é notório que o projeto comum não conseguiu lidar com a Guerra da Jugoslávia ou com o drama provocado por ataques terroristas, nem com as diferenças notórias que têm eco na relação, muitas vezes difícil, entre os estados do centro e norte e as nações da bacia do Mediterrâneo, que a custo de muito trabalho diplomático, logrou alcançar a construção de uma imagem evocativa de uma aparente unidade e convergência de objetivos.

A degradação da aliança entre os Estados Unidos da América e o bloco europeu, que se fez sentir nos anos de Donald Trump, arrastou para a superfície debilidades do conjunto, concretamente no que diz respeito à necessidade de um esforço concertado em matérias de segurança e de defesa e que agora ganham novamente espaço mediático com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

O atual clima belicista que se faz sentir junto da fronteira oriental da União leva-nos a refundar os valores em torno do projeto comum e ao mesmo tempo, repensar sobre as ações fundamentais a ter em conta para o futuro social, cultural, político, estratégico e económico da Europa a curto e médio prazo, para que a União não se torne um sonho do passado perante os desafios impostos pela digitalização imparável do mundo, pelo paradigma da inteligência artificial, a valorização dos recursos disponíveis e o combate às alterações climáticas.

Diretor do CTesP de Comunicação Digital

Diretor da Licenciatura em Comunicação e Tecnologia Digital

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