Engenharia da Segurança do Trabalho aposta na forte componente técnica e profissional

A atual crise sanitária e as transformações tecnológicas que o mundo vive levam a uma procura galopante dos cursos que exploram a saúde, higiene e segurança as empresas, com o foco na atividade laboral.

Coordenador da licenciatura de Engenharia da Segurança do Trabalho do ISLA - Instituto Politécnico de Gestão e Tecnologia, o professor Hernâni Neto assinala os pontos fortes do ciclo deste ciclo estudos sem esquecer o papel da investigação científica como garante de inovação pedagógica e de desenvolvimento de espírito crítico.

 

bhernani2P: Há quantos anos existe oferta formativa na área da Segurança e Saúde do Trabalho (SST) no ISLA-IPGT?

R: O ISLA já tem uma longa tradição de oferta formativa nos domínios da SST, perfazendo duas décadas. O percurso é longo e revela uma progressiva evolução e consolidação dos programas formativos disponibilizados. De uma forma sumária, pode-se situar, no ano letivo de 2000/2001, a disponibilização do primeiro curso de longa duração nesta área no ISLA. Foi aprovada e promovida a Pós-graduação em Técnico Superior de Segurança e Higiene do Trabalho.

Em 2007, foi proposta e aprovada para o ISLA a primeira oferta de 1º ciclo, com a criação da Licenciatura em Segurança e Higiene no Trabalho. Depois em 2009, essa licenciatura foi transformada num curso de engenharia, para formalizar as bases e os actos de engenharia que estavam na programação do curso. Também foi uma forma de diferenciar a oferta formativa face à existente no mercado, e dar resposta à procura de engenheiras/os de segurança do trabalho pelas empresas, em particular nos setores da indústria e da construção civil. Portanto, em 2009 foi criada a Licenciatura em Engenharia da Segurança do Trabalho, estando a funcionar ininterruptamente desde então.

A licenciatura em Engenharia da Segurança do Trabalho além de permitir o acesso ao grau de licenciado, também favorece o acesso automático a outras acreditações, como o CAP para exercício da profissão de Técnico/a Superior de Segurança do Trabalho e o CCP para exercício da profissão de Formador/a.

Em 2015, foi proposto e aprovado um curso Técnico Superior Profissional (TESP) em Gestão da Qualidade, Ambiente e Segurança. É um curso de nível cinco de qualificação, pré-licenciatura, que surgiu em resposta ao desafio lançado pelo governo de Portugal, para que as instituições de ensino superior politécnico criassem cursos TESP nas variadas áreas, enquanto formação técnico-profissional especializada que permitisse o acesso ao ensino superior de mais estudantes, em particular aqueles oriundos do ensino secundário profissional. Já foram promovidas várias edições deste curso no ISLA, encontrando-se também em pleno funcionamento e a aceitar candidaturas para o próximo ano letivo.

Em 2016, foi proposto e aprovado o curso de Mestrado em Gestão da Segurança e Saúde do Trabalho. É uma oferta de 2º ciclo que atribui o grau de mestre, mas também permite o acesso ao CAP para exercício da profissão de Técnico/a Superior de Segurança do Trabalho. Também já foram promovidas várias edições deste curso, estando em pleno funcionamento e a aceitar candidaturas para o próximo ano letivo.

 

P: Para além da oferta mencionada anteriormente nesta área no ISLA, está previsto, no futuro, novas formações nesta mesma área?

R: Todos os cursos mencionados na questão anterior integram, atualmente, a oferta formativa do ISLA nesta área. Paralelamente, a equipa docente tem procurado criar novas oportunidades formativas para a comunidade, nomeadamente em componentes de grande especificidade técnica. Nesse âmbito, pode-se destacar a criar de algumas pós-graduações que procuram ir de encontro a necessidades sinalizadas pelo mercado de trabalho, a saber: Pós-graduação em Auditoria de Sistemas Integrados de Gestão (Qualidade, Ambiente e Segurança); Pós-graduação em Coordenação de Segurança na Construção; Pós-graduação em Enfermagem do Trabalho; e Pós-graduação em Segurança Contra Incêndios em Edifícios.

Além desta oferta pós-graduada, existe a intenção de se disponibilizar um programa de formação avançada de curta duração em Engenharia de Segurança, Qualidade e Ambiente, para fomentar a formação contínua das/os profissionais em atividade na área. Brevemente, espera-se ter condições de apresentar novidades a esse respeito.

“Estudantes de SST do ISLA registam

indicadores de inserção profissional quase plena”

 

P: A opinião pública tem a convicção de que os cursos de SST e dos sistemas de gestão têm uma procura forte no mercado português. Como se pode caracterizar a procura e empregabilidade nestas áreas no ISLA?

R: De facto, tem que se reconhecer a existência de um interesse crescente e procura por ofertas formativas nesses domínios em Portugal e no próprio ISLA. Essa situação deve-se a diversos fatores, podendo-se destacar as políticas públicas de incentivo à frequência do ensino superior, a maior consciencialização social sobre os ganhos de empregabilidade e financeiros que a formação superior trás para as/os diplomadas/os, o aperfeiçoamento da legislação de SST e dos mecanismos de fiscalização do Estado, a aposta progressiva das empresas na criação de serviços de SST e na implementação de sistemas de gestão de acordo com referenciais normativos internacionais, para dar resposta a exigências legais e de clientes, os incentivos e exigências para a formação ao longo da vida, como mecanismo de atualização de competências e de manutenção de acreditações por partes das/os técnicas/os de segurança.

Todos estes aspetos têm contribuído progressivamente para a existência de mais pessoas a procurar fazer formação superior (inicial e contínua), contudo, isto não quer dizer que os cursos na área da SST e dos sistemas de gestão tenham procuras massivas, porque não corresponde à verdade. São áreas muito técnicas e que tem procuras específicas. Quer dizer que não existem diplomadas/os a abundar o mercado, assegurando taxas de empregabilidades elevadas. Essa tem sido a própria experiência do ISLA, registando-se indicadores de inserção profissional quase plena.

 

P: Quais são os pontos fortes dos cursos de SST, quais as mais valias que levam os estudantes a se inscreverem nestes que são dos cursos mais reconhecidos da oferta formativa disponibilizada pelo ISLA-IPGT.

R: De uma forma concisa e simplificada, tendo por referência mais a Licenciatura e o Mestrado, pode-se dizer que são cursos com uma forte componente técnica e orientação profissional, que contam com um corpo docente altamente qualificado (do ponto de vista académico e técnico-profissional) e com capacidade de fornecer programas formativos com excelente adequação ao exercício da profissão e às necessidades das empresas. Também se pode voltar a destacar aspetos já mencionados, como a elevada empregabilidade e as acreditações profissionais complementares que fornecem aos seus diplomados e diplomadas.

 

P: Quais as perspetivas de futuro para uma valorização evolutiva destes ciclos de estudos, de forma a diferenciá-lo cada vez mais de outras ofertas disponíveis no mercado?

R: Estes cursos como são acreditados por organismos públicos, com planos de estudos publicados em Diário da República, faz com que não seja possível mudanças estruturais sem uma reavaliação por parte dessas entidades. Mas isto não quer dizer que sejam ofertas formativas estanques no tempo, porque graças à ligação do corpo docente à investigação científica e a sua aposta na atualização contínua de competências, permite que os programas formativos disponibilizados, nas diferentes unidades curriculares, sejam também atualizados com a evolução do conhecimento técnico-científico, as alterações legais e normativas, e as boas práticas reconhecidas na área. Portanto, existe uma visão evolutiva do conhecimento preparado e construído para as/os estudantes, focalizando o desenvolvimento de competências do presente e do futuro.

 

P: A produção científica tem sido um dos pontos forte para o sucesso da licenciatura e do mestrado. É importante motivar os estudantes para a prática de investigação nesta área? E quanto a sinergias com instituições externas ao nível da investigação e mobilidade?

R: A investigação científica é um traço decisivo do ensino superior atual e de futuro. O envolvimento continuado das/os docentes em atividades de investigação é, cada vez mais, um pressuposto da carreira de docente de ensino superior. Como referido anteriormente, esse é um dos princípios que garante a atualidade técnico-científica dos programas formativos disponibilizados. Mas além disso, é uma forma de inovar pedagogicamente e de criar profissionais com espírito crítico e curiosidade científica, o que também exige que se envolva e motive as/os estudantes para a prática da investigação.

Tem sido feito esforço significativo para que essa realidade aconteça nos cursos de SST, permitindo que as/os estudantes possam colaborar em projetos que as/os docentes tenham a decorrer, possam desenvolver os seus próprios projetos, com apoio da equipa docente, e posteriormente consigam publicar os seus resultados em artigos científicos e/ou apresentar os mesmos em congressos.

A criação de uma revista científica nesta área no ISLA tem permitido publicar trabalhos de qualidade, que funcionam também como fonte conhecimento e motivação para as/os estudantes atuais e futuros, e um acervo técnico para a própria comunidade profissional portuguesa. O financiamento de inscrições de estudantes em eventos científicos para apresentarem trabalhos, o estabelecimento de parcerias com instituições internacionais para potenciar a mobilidade de estudantes e docentes ou para fomentar a partilha de experiências e projetos, são outros exemplos de ações que se tem preconizado para estimular a investigação e produção científicas nos cursos de SST do ISLA.

A investigação é a porta de acesso ao conhecimento, uma forma de compreender o passado e o presente, e de perspetivar as necessidades do futuro. Essa é a mensagem que se procura transmitir.

“A pandemia deixou vincada a importância dos

serviços de SST nas empresas”

 

P: A realidade provocada pela pandemia gerou novos desafios na forma como as organizações lidam com a SST no contexto profissional. Quais os principais desafios que os futuros licenciados em SST vão enfrentar nos próximos anos?

R: O contexto pandêmico está a trazer enormes desafios para toda a sociedade, inclusive para os profissionais de SST que estão no exercício e para os que vão iniciar a sua viagem nos próximos tempos. Ninguém consegue prever qual será a duração efetiva da pandemia e que grau de normalidade será possível ter nos próximos anos. Mas uma coisa parece evidente, é que pandemia deixou vincada a importância dos serviços de SST nas empresas. As que tinham serviços devidamente estruturados, foram as que melhor se adaptaram e conseguiram gerir o risco de contágio, conseguindo, com mais rapidez, retomar atividade produtividade e minimizar perdas económicas.

Se forem analisados os relatórios técnicos e os estudos sobre a pandemia já disponíveis em Portugal, percebe-se que a maioria dos focos de contaminação aconteceram fora das empresas, em grande medida porque os serviços organizacionais de SST adotaram medidas mitigadoras de contágios. Atrevo-me a dizer que as/os técnicas/os de segurança a atuar em Portugal também fazem parte do grupo de heróis e heroínas da pandemia, trabalhando diariamente para assegurar as melhores condições possíveis de segurança e saúde às/aos trabalhadoras/es, e por inerência às respetivas famílias.

O contexto adverso demonstrou que os profissionais de SST (atuais e futuros) necessitam de ter grande resiliência e compromisso pela causa, porque a realidade de trabalho é mutável, e vai continuar a exigir capacidade de adaptação, de aprendizagem contínua e de defesa intransigente do direito constitucional das/os trabalhadoras/es à SST.

 

P: As novas instalações têm sido alvo de elogios públicos pela oportunidade que oferecem no contacto com a sociedade e na panóplia de espaços que possibilitam criar novos projetos no seio da comunidade ISLA-IPGT. Qual a mais valia destas para a dinâmica dos cursos de SST que dirige?

R: O ISLA tem se pautado sempre por procurar criar as melhorias condições possíveis de trabalho e de estudo para toda a sua comunidade educativa. A aposta numa nova e moderna instalação educativa é um reflexo claro desse princípio. É com orgulho que vemos este edifício e com a convicção que é um lastro que cria a perspetiva de se abrirem novas oportunidades. Por exemplo, em primeiro lugar, porque melhora as condições de estudo, ensino, investigação e serviço, podendo fomentar o incremento do sucesso académico; em segundo, porque cria um marco na região, tornando o instituto mais apelativo no recrutamento de um leque mais alargado e diverso de estudantes, para os diferentes níveis de ensino; em terceiro, porque permite aumentar a oferta formativa de curta e longa duração a funcionar em simultâneo, reduzindo constrangimentos de funcionamento; e, em quarto, porque passa a ter infraestruturas próprias para dinamização de eventos científicos internacionais e o acolhimento de estudantes e investigadoras/es estrangeiros.

Estes aspetos mencionados têm uma valia direta para os cursos de SST que são promovidos atualmente, bem como para as iniciativas que se tem projetado para desenvolvimento no futuro. Algumas delas já se mencionou anterior, como o reforço da oferta formativa, nomeadamente de curta duração, e a organização de eventos de científicos (congressos, conferências, etc.).

Entrevista de Artur Filipe dos Santos

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